Pertence a Coimbra o documento mais antigo que atesta a presença de Judeus no território português. Essa presença, embora tenha atravessado tempos pacíficos, também viveu tempos de grande intolerância e perseguição.
É no Pátio da Inquisição, num espaço com mais de 470 anos de história, que encontramos a exposição de longa duração “Judeus de Coimbra | da tolerância à perseguição | memórias e materialidades” que pretende contar a história das comunidades judaicas de Coimbra.
Neste espaço, antigo refeitório do Real Colégio das Artes, foi instalado o Tribunal da Inquisição e transformado em cárceres e na casa do tormento até à extinção deste tribunal em 1821.
Agora são aqui expostos, através de 13 painéis com imagens e texto [em português e inglês], vestígios e memórias das perseguições, torturas e mortes praticadas em nome da defesa da fé e da Igreja durante um período negro da história do país. A exposição pretende “identificar, descodificar, preservar e tornar acessível o legado dos Judeus de Coimbra”.
A exposição, de entrada gratuita, pode ser visitada de terça a sábado, das 13:00 às 18:00. Encerra aos domingos, segundas e feriados. Contactos: 239 840 754; museu.municipal@cm-coimbra.pt
Foi adquirido, pela Câmara Municipal de Coimbra, o edifício onde em 2013 foi descoberta uma sala de banhos rituais judaicos (Mikveh), o que vem reforçar a herança de comunidades judaicas em Coimbra. Localizado na rua Visconde da Luz (número 19 e 21), esta rua era um dos limites da designada judiaria velha. O mais antigo bairro judaico (Judiaria Velha), organizado desde o séc XII, situava-se na Rua Corpo de Deus e nas suas imediações.
A localização do Mikveh pode justificar-se pela presença de água de nascente no local, requisito obrigatório nos banhos de purificação. Uma vez que o Mikveh constitui um anexo da Sinagoga, é também expectável que a Sinagoga da Judiaria Velha de Coimbra se poderá ter localizado na sua proximidade.
Relembramos que os banhos de purificação tiveram uma grande importância na vida dos Judeus e continuam a ser importantes para os Judeus praticantes. Este é um dos mais antigos banhos rituais judaicos descobertos na Europa e destinava-se a banhos rituais femininos: remonta à data de 1370. Historicamente as mulheres utilizam o Mikveh com mais frequência, para purificar o corpo mensalmente após o ciclo menstrual, depois de relações sexuais e da maternidade.
Pela raridade e pelo seu incrível estado de conservação, esta descoberta é verdadeiramente surpreendente. Espera-se que num futuro próximo seja possível ser visitada pelo público, à semelhança da fonte medieval associada à presença judaica em Coimbra, a fonte dos judeus, considerada a mais antiga infra-estrutra pública de abastecimento de água na cidade com cerca de 900 anos que tem sido conservada e preservada pelo Município, apesar de muito alterada.
Importa ainda referir que em 1537, quando a Universidade foi transferida de Lisboa para Coimbra, foram ali transmitidos importantes estudos científicos pela comunidade docente judaica, nomeadamente na Medicina, Ciências Exactas e Botânica. A universidade enquanto centro de “livre pensamento” rapidamente se tornou uma ameaça para a fé cristã. Muitos professores acabaram por sofrer perseguições acusados de tendências para o judaísmo e forçados a abandonar a profissão.
Atualmente, um dos livros mais raros da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra é a “Bíblia Hebraica de Abravanel”, do séc. XV. Este livro sagrado, manuscrito em 1450 em Lisboa, foi encomendado por um judeu português com ligações familiares a Sevilha: Isaac Abravanel.
A “Bíblia Hebraica de Abravanel” é hoje uma obra muito procurada pelos representantes de Israel em Portugal que visitam a bíblia hebraica como quem visita um santuário.